Poesia, prosa e música


Há um "livre-fluir" rítmico na prosa que não se encontra na poesia. Poesia utiliza métrica, um padrão que assinala pulsos forte e fracos sobre o qual o texto é imposto. Música pode ter o fluxo livre da prosa, ou pode ser concebida baseada na métrica, o que ocorre na maioria das vezes. O canto gregoriano, ao invés disso, utiliza o livre ritmo da prosa (ver exemplo 2a).

As diferenças entre o ritmo da prosa e o ritmo poético podem ser claramente observados comparando-se os dois textos no exemplo 1. O exemplo 1a, um texto em prosa, é do Macbeth de Shaekespeare; o exemplo 1b é a abertura do seu Soneto 65. Ambas as sentenças são extendidas; ambas possuem cláusulas longas e curtas, contrastantes, bem pontuadas por vírgulas. O exemplo em prosa contém muitas mudança de passo e acento, e repetição de muitas palavras (her e it, particularmente). As quatro linhas do soneto são em pentamétrico iâmbico; em cada linha, exceto a primeira, há ritmos opostos ao ritmo básico. O esquema de rimas, a repetição de nor e a rima interna da linha 4 são fatores unificadores.

Ex. 1 : ritmo da prosa X ritmo poético

Obs.: as linhas 2, 3 e 4 do soneto mostram uma dupla análise, na qual a série superior mostra a métrica, e a inferior, o ritmo.

Os dois arranjos do "Kyrie eleison" a seguir mostram contraste similar no tratamento rítmico. O cantochão do exemplo 2a é ritmicamente livre e completamente "não métrico". Na segunda melodia, da Missa em si menor, de Bach, exemplo 2b, o ritmo é imposto sobre uma métrica que alterna pulsos fortes e fracos. Deve ser observado que em 2a as três últimas notas são as mesmas, em espelho, que as três primeiras; e que no exemplo 3b as três notas longas do início são balanceadas por outras três, no fim. Ambas as melodias apresentam um contorno em arco, e ambos início e fim estão na tônica. Pontos para respiração estão indicados pelo editor.

Ex. 2 : ritmos métrico e não métrico em música

A derivação da métrica musical da métrica poética é revelada na persistência de conceitos tais como: métrica dupla e tripla; pulsos fracos e fortes; o compasso, que corresponde ao poético; contratempo e acento; e a distinção entre meio final e final pleno, ou cadências.

A métrica poética existe por muitos séculos antes de ser adaptada às necessidades musicais na Idade Média. O desenvolvimento gradual da notação musical levou a novos refinamentos e complexidades que não eram necessários na notação poética. Assim, a música emprega sinais especiais para indicar o metro, o tempo, acentos, proporções rítmicas, compasso etc.