Noções


1) Diz-se imitação a reprodução que faz uma parte [voz] de um desenho melódico proposto por outra:

Ex. 1 : J. S. Bach, A Arte da Fuga, Canone II.

O desenho a ser imitado chama-se tema, sujeito, proposta, antecedente (dux); a sua reprodução, resposta ou conseqüente (comes).

2) A imitação distingue-se em vários tipos: o critério da distinção é o confronto entre o sujeito e a resposta, com relação à direção do movimento melódico e ao valor das figuras.

Com relação à direção do movimento melódico, a imitação pode ser natural, retrógrada, direta ou inversa.

A imitação é natural quando a resposta reproduz na ordem idêntica as notas da proposta.

Proposta A B C D . . . . . . N.
Resposta A B C D . . . . . . N.

A imitação é retrógrada quando a resposta reproduz as notas da proposta na ordem oposta, isto é, de maneira que a última nota desta torne-se a primeira daquela, e vice-versa.

Proposta A B C D . . . . . . N.
Resposta N . . . . . . D C B A.

A imitação é direta quando os intervalos da proposta são reproduzidos na resposta em direção idêntica.

A imitação é inversa quando os intervalos da proposta são reproduzidos na resposta em direção oposta.

Com relação ao valor das figuras a imitação se distingue em igual e desigual, conforme os valores das figuras na respostas sejam, ou não, os mesmos que na proposta. A imitação desigual pode ser aumentada ou diminuída, se os valores rítmicos na resposta sejam maiores ou menores que na proposta.

3) As diversas espécies de imitação podem-se combinar de diferentes maneiras. Dado isto, se tomarmos em consideração o sujeito abaixo, serão possíveis as seguintes respostas:

4) A imitação, qualquer tipo que seja, pode ser rigorosa ou livre.
Na imitação rigorosa a resposta conserva o gênero e a espécie dos intervalos do sujeito (ex. 1).
Na imitação livre pode-se encontrar diversos casos:
a) a resposta conserva o gênero mas não a espécie dos intervalos do sujeito:

Ex. 2 : J. S. Bach, A Arte da Fuga, canone III.

Neste exemplo se vê que, com exceção de três, os intervalos da resposta são de gênero igual, mas de espécie diversa dos intervalos do sujeito.
b) a resposta conserva apenas a direção ascendente ou descendente dos intervalos do sujeito [contorno], mas não a mesma extensão:

Ex. 3 : J. S. Bach, O Cravo Bem Temperado, vol. I, Fuga 2.

Vê-se nesse exemplo que, enquanto na proposta entre a 3a e a 4a nota temos um intervalo de 4a, e entre a 4a e a 5a nota um intervalo de 2a, na resposta, no local correspondente, temos um intervalo de 5a e outro de 3a.
c) a resposta conserva apenas as figuras do sujeito (imitação rítmica).

Ex. 4 : Constanzo Porta, de uma Antifona a 4 vozes.

5) A imitação, qualquer tipo que seja, pode se dar em qualquer intervalo [de distância da proposta]: ao uníssono, à segunda, à terça, à quarta, à quinta, à sexta, à sétima, à oitava ( superior ou inferior). A imitação ao uníssono e à oitava são necessariamente rigorosas; à quarta e à quinta também podem ser rigorosas; as outras são livres.

6) A imitação, qualquer tipo que seja, pode se dar ainda:
a) invertendo-se a ordem dos tempos, isto é, as notas que se encontram em tempo forte na proposta venham a se encontrar em tempo débil na resposta, e vice-versa (imitação em contratempo).
b) fazendo seguir cada nota da resposta de uma pausa de igual valor (imitação interrompida).