Movimento harmônico repetido


Alguns parágrafos acima tivemos a oportunidade de notar que a 2a.frase da canção Mary had a Little Lamb é diferente da, embora similar à 1a. frase (seção "Frases variadas e Repetidas"). Apesar do fato de as seqüências harmônicas de ambas as frases serem idênticas, a 2a. não é uma repetição variada da 1a. Chamamos a atenção para os diferentes pesos das duas cadências: a 1a. sendo imperfeita, a 2a., perfeita. A questão que agora desponta é se duas frases similares, idênticas em harmonia - até a cadência - podem formar um período. A despeito dos diferentes pesos das cadências, ambas as frases tem o mesmo alvo harmônico, e a 2a. frase não pode completar um movimento harmônico deixado incompleto pela anterior. As duas frases do exemplo presente mostram uma situação de paralelismo.

Exemplo:
GOUNOD: Faust, Ato I

Os ouvidos percebem a frase 1 como incompleta, a frase 2, como completa. A razão para este fenômeno é que, embora o movimento harmônico se complete tanto no antecedente como no conseqüente, o movimento melódico é tal que, no fim da frase 1, a voz superior não atinge a tônica, mas a mediante ou a dominante. Quando, então, na frase 2, tanto a melodia quanto a harmonia finalmente atingem a tônica, o ouvinte tem a impressão de que algo incompleto completa-se agora. Isto é, entretanto, uma mera impressão. A cadência imperfeita é, pois, conclusiva, e não inconclusiva - como testemunham muitas composições que terminam com a 3a. ou a 5a. da tônica (veja-se o Chorale No. 74 ou a primeira e última peças das Kinderscenen, de Schumann). Apenas após o ouvinte ter escutado a cadência perfeita e a comparado ex post facto com a imperfeita é que esta parece inconclusiva. Esta impressão, forte e universal, é a provável causa do reconhecimento geral que duas frases com metas harmônicas idênticas podem, sob as circunstâncias descritas, formar um período.