Qualquer que seja o tipo de uma melodia, o procedimento da análise é sempre o mesmo. Consiste de
:
1o) eliminar em cada frase os períodos repetidos, tendo-se em conta apenas os períodos
reais;
2o) eliminar em cada um destes as notas acessórias, de ordem puramente ornamental,
para se levar em conta apenas as notas reais.
Feitas essas duas operações, encontramo-nos em presença de um tipo de esquema melódico, ou
mesmo puramente rítmico, a partir do que a análise torna-se fácil.
Numa melodia bem constituída, a organização das frases e períodos assim reduzidos ao seu aspecto
esquemático devem, tanto que possível, satisfazer às condições seguintes:
1o) ao longo de um mesmo período, o mesmo grau, - isto é, a mesma função de uma nota
da escala, - não deve ser escutado diversas vezes no mesmo sentimento tonal;
2o) a condução tonal de cada período deve ter sempre um alvo bem determinado, e esse
alvo deve ser atingido no período seguinte;
3o) as frases musicais enfim, formadas de dois ou três períodos cada uma, e chamadas
a constituir em seu conjunto a idéia musical, como explicaremos no capítulo Sonata,
(no livro II) devem ser dependentes umas das outras, embora diversas em outros aspectos.
Quando essas três condições são preenchidas, a Melodia responde verdadeiramente à meta da Arte,
que é a Variedade na Unidade.
Damos mais adiante três exemplos de análise melódica estabelecida por meio da redução da frase à
seu esquema rítmico. Este estado simples contém, naturalmente, apenas acentos tônicos (^),
acentos expressivos (<) saídos do estado completo da melodia, cujo âmbito provoca, às
vezes, o deslocammeto do acento.
Observe-se que as mais belas frases musicais são aquelas que, extraindo sua força de seu próprio
elemento, a melodia ritmada, não perdem nada ao serem apresentadas sem vestimenta
harmônica. Tal é o caso dos exemplos seguintes, escolhidos em três épocas diferentes da história
da música, mas oferecendo uma igual pureza de linha unida a uma igual altura de inspiração.
Esta frase ternária, composta de dez grupos, é essencialmente simétrica: o primeiro período é
reproduzido duas vezes, e os ritmos do segundo correspondem aos do terceiro.
O mesmo não ocorre com o exemplo seguinte, tipo tanto admirável quanto raro de frase quadrada,
quer dizer, formada de quatro períodos melódicos diferentes. Esta melodia, como a do exemplo
anterior, é formada por dez grupos, mas o terceiro e o quarto, o oitavo e o nono, têm um tempo a
menos que os outros grupos da melodia, e por isso podemos classificá-la de frase cerrada.
Quanto ao terceiro exemplo, é uma frase que pode ser chamada de decrescente: cada um dos três períodos desta bela melodia ternária apresentam um grupo a menos que o período precedente (5 grupos para o primeiro, 4 para o segundo, 3 para o terceiro).