O lugar do acento tônico varia segundo a forma, masculina ou feminina, do grupo melódico


A acentuação guarda a própria essência da melodia; dá-lhe significação, determinando-lhe a rítmica melódica. Na música pura, assim como no canto, uma simples mudança de acentuação modifica o sentido rítmico e o significado musical.
Na fração leve do grupo feminino que acabamos de examinar, por exemplo, o primeiro ritmo é masculino; ele perderia todo o seu caráter se lhe acentuássemos como um ritmo feminino1:

Da mesma forma, os dois períodos melódicos abaixo, quase idênticos em aparência, especialmente quando são transcritos na mesma tonalidade e com os mesmos valores de notas - como fazemos aqui - são, em razão de sua acentuação, bastante diferentes para a audição2:

Com efeito, o primeira é, antes, masculino, a despeito das pequenas notas ornamentais [em fusas] que ocupam a fração pesada de cada grupo, e que são bem pouco importantes para lhe modificar o gênero. Quanto ao segundo, é claramente feminino.


Nota:
1. É curioso de se constatar que este período inicial da Sinfonia Pastoral seja tão freqüentemente interpretado com a acentuação a mais falsa possível (ver logo abaixo), triste resultado da tirania da barra de compasso e do ensino "anti-rítmico" do solfejo:

2. Escolhemos intecionalmente esses dois exemplos, nos quais a barra de compasso divide os grupos segundo o ritmo, disposição que nem sempre é observada, mesmo por compositores geniais.