Observe o seguinte trecho musical:
Ex. 1a
Devido ao fá ligado no 4o tempo do 1o compasso e do mi (síncope) que penetra no 2o tempo do 2o compasso, esses mesmos tempos ficaram sem marcar a sua pulsação, o seu beat : não há notas atacadas na cabeça desses tempos. Agora veja esse mesmo trecho contraposto ao seu c. f. no soprano:
Ex. 1b
A situação perdura, pois as notas longas do c. f. não ajudam a acentuar aqueles tempos sem "marcação". Se a peça em questão fosse escrita a duas vozes como aí está, poderíamos afirmar que, ritmicamente, está desajeitada. Acompanhe o próximo passo:
Ex. 1c
A voz do contralto no 2o compasso ainda não contribui para marcar o 2o tempo. Esta situação desaparece quando observamos o exemplo completo:
Ex. 1d : J. S. Bach, Christ ist Erstanden, BWV 627, verso II.
Agora o 2o ré do contralto no 1o compasso e o 2o mi do baixo no 2o compasso "encarregam-se" de acentuar o 4o e o 2o tempos dos compassos 1 e 2, respectivamente. Isso permite ao ouvinte perceber nitidamente o pulso da música.
Veja agora a seguinte situação: apesar de notas longas no c. f. requererem "algum movimento contra elas"1, é bom considerar cada caso em seu contexto. Dado um c. f.:
Ex. 2a
No exemplo abaixo, a solução sugerida parece ser a indicada, com o contraponto antecipando o 2o compasso do c. f.:
Ex. 2b
De fato, é passável. O seguinte, no entanto, é preferível. Observe a efetiva aplicação das síncopes no início:
Ex. 2c